O Guia da Shonen Jump para Fazer Mangá – Taishi Tsutsui

No dia 18 de Outubro deste ano, foi publicado o livro “The Shonen Jump Guide to Making Manga” (O Guia da Shonen Jump para Fazer Mangá, em tradução livre). Em uma determinada seção do livro, 16 mangakás foram entrevistados para falar sobre como é seu processo criativo. Estaremos trazendo, aos poucos, todas as entrevistas.

Hoje é a vez de Taishi Tsutsui, de We Never Learn


Qual conhecimento teria te beneficiado quando você começou sua carreira como mangaká?

Eu sempre me perguntei que tipo de materiais os profissionais usavam (canetas, tintas, branquinhos, papéis, etc). Aqui está o que eu uso hoje:

• Uma caneta Nihonji de Nikko para os personagens;

• Uma caneta de mapeamento Nikko para cenários e hachuras;

• Tinta preta Pilot para os rascunhos;

• Corretivo líquido Misnon;

• Papel I-C 110kg, tamanho B4, para desenhos.

Eu faço todo o riscado com canetas e papéis físicos, então escaneio e adiciono preto e outros tons em um programa digital chamado Clip Studio. Enquanto isso, estou treinando a mim mesmo para me tornar completamente digital.

Qual foi a primeira coisa que você fez depois de decidir ser um mangaká? (ex: praticar, criar estratégias, etc)? E/ou, você tem um método eficiente para praticar?

Quando eu realmente comecei a desenhar de verdade, eu fiz um sketchbook de umas mil páginas de papel para impressão e disse que iria preencher aquilo tudo em um mês. Croquis, sketchs, rabiscos, chame do que quiser – o objetivo era desenhar uma média de 34 páginas decentes por dia.

É questionável o quão efetivo esse treinamento foi, mas eu sinto que me preparar nessa guinada de velocidade me ajudou a aguentar o ritmo que uma serialização semanal pede.

Hesitação é outra coisa que afeta o quão rápido uma pessoa pode acabar seus desenhos. Eu pratiquei dizer a mim mesmo: “Não ponha o rabo entre as pernas nem fuja de composições que vão além do que você consegue”. Graças a esse treinamento, eu raramente me sinto perdido ou em um impasse com meus rascunhos.

Por fim, eu examinei o ritmo dos meus quadrinhos e os diálogos de personagens dos meus mangás favoritos e os referenciei, ou os copiei, para melhorar minha própria capacidade de fazer storyboard.

No que você fica mais atento enquanto revisa seus storyboards (seja quando se auto edita ou recebendo conselhos editoriais)?

É essencial impor prazos limites a você.

Se você tem um tempo para editar e fazer pequenos ajustes, vai fundo, mas o pior cenário é não ter um produto completo a tempo. Tudo é só uma ideia se seu trabalho não está finalizado. Trabalhar com um editor pode te dar uma margem maior, mas se você está por conta própria, você precisa ter um entendimento claro de quanto tempo leva para criar seus storyboards e revisá-los. Saiba quantas páginas você consegue fazer em um dia, decida exatamente quando você vai enviá-las, e então se prenda a esses prazos como se sua vida dependesse disso.

Tem alguma coisa que você poderia ter preparado melhor antes da sua serialização começar?

Saber como criar documentos de especificação para pedir trabalhos específicos para meus assistentes. Hahahaha. Desde antes da minha serialização semanal, sério, eu tenho feito os toques finais digitalmente (e sozinho), então eu não tinha ideia de como era o fluxo de trabalho quando recebi ajuda de assistentes.

Eu me lembro de choramingar sobre o processo depois que minha série começou, então se você tem alguma margem extra de tempo, tenha certeza de criar bem esses documentos adiantadamente. Isso vai fazer as instruções para os assistentes serem tão mais fáceis.

O que você tem em mente enquanto está criando mangás? 

Acima de qualquer coisa, eu quero que os leitores se divirtam e se sintam engajados no meu trabalho.

Isso é feito não com diálogo, mas mostrando emoções sutis no layout da cena, expressões faciais, e similares.

Eu também tento entregar minhas coisas uma semana ou mais antes do prazo final (eu falhei comigo mesmo se meu editor tem que me lembrar da data de entrega!)

Qual sua abordagem para criar personagens marcantes?

Essa pergunta é complicada, mas eu constantemente me pego perguntando “Como esse personagem secundário pode contribuir para o apelo do personagem principal?”.

A forma exata que atinge um determinado personagem secundário permite orientá-lo na sua própria caracterização e informará o seu próprio interesse.

Como alguém pode praticar a criar esses personagens fortes?

Na parte artística, quando você vê uma arte encantadora, tente copiá-la e aplicar esse charme para o seu próprio trabalho. Estude em detalhes o que a faz ser tão boa, na sua visão.

Sobre personalidade, escreva storyboards e cenários (até mesmo curtos) onde você tem seu personagem tomando ações e falando com vários tipos de personagens diferentes. Faça isso até que a essência deles comece a emergir, até que você saiba exatamente como fazer esse personagem reagir a uma dada situação. Esse entendimento ajuda a transformá-los rapidamente em personagens fortes.

Quantas páginas/obras você criou até chegar na sua primeira submissão de verdade? E quantas obras/páginas desde a sua primeira submissão até sua estreia?

Se estivermos falando do meu primeiro trabalho publicado em uma revista, eu criei uma quantia considerável até esse ponto.

Quando eu era pequeno, eu desenhava alguns “volumes” de mangás em cadernos, mas eu entrei nesse jogo de desenhar um mangá completo bem tarde. Ao invés de mostrar minhas obras a editores profissionais, eu fazia meu trabalho independente estilo doujinshi. Esses doujinshis me levaram a uma oferta de serialização mensal, e daí, eu fui sortudo o bastante de ter séries em várias revistas, tudo enquanto estava aprendendo o ABC dos mangás de editores e assistentes no trabalho.

Antes de entrar na Jump propriamente, eu tive seis séries diferentes saindo em revistas mensais ou quinzenais. Essa quantidade equivale a uns 22 volumes de mangá, com mais ou menos 170 páginas por volume, o que chegou a umas 3.700 páginas. Adicionando a isso os doujinshis e muitos outros one-shots que eu fiz você consegue talvez umas 4.000 páginas ao todo.

Provavelmente é melhor não usar a mim como exemplo…

Qual sua abordagem para criar mangás que são bons de se ler?

• Dê a cada personagem uma silhueta distinta, então mesmo em um plano aberto, fica óbvio quem é quem;

• Mantenha o layout da página simples. Os quadros devem manter sempre todas as bordas;

• Siga a regra de criação de filmes dos 180º (Um personagem que está à direita não deve de repente ser mostrado na esquerda);

• Tenha certeza que cada balão de fala tem um rabicho apontado para o falante. Quando o falante estiver fora do quadro, adicione um pequeno desenho chibi do rosto dele no balão (para que fique bem claro);

• Não deixe as bordas dos quadros, balões de falas, ou outros elementos da composição cortar partes da cabeça ou do rosto dos personagens;

• Tente não colocar quatro ou mais linhas de texto por balão de fala. Cinco é o máximo.

Quanto tempo demora para criar um storyboard de um capítulo de 19 páginas para um mangá?

De 13 a 15 horas. Eu começo no início da tarde da Sexta e envio por volta das 3 da manhã [de Sábado].

Quanto tempo demora para você finalizar o desenho de um capítulo de 19 páginas para um mangá?

Eu levo de Sábado a Segunda fazendo os personagens. Então os assistentes entram e gastamos de Segunda a Quarta fazendo os cenários e o resto (para que eu possa enviar na Quarta).

Então, cinco dias no total.

Além de criar seus storyboards, o que você faz pra ter ideias e pontos do enredo de suas obras?

Eu assisto filmes, leio mangás e etc. Quando alguma coisa interessante que eu possa usar vem, eu anoto em um aplicativo no meu telefone, ali mesmo. Eu também, como disse antes, quando acho artes incríveis na internet, salvo a imagem, copio-a a mão e estudo o que faz com que ela me seja atrativa.

Tem alguma coisa que você usa de referência quando cria seus one-shot?

Eu sempre fui um grande fã da mestra Rumiko Takahashi, e eu já li a coletânea Rumic World incontáveis vezes.

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