Em outubro de 2021 estreou nas páginas da revista Shonen Magazine o mangá Ao no Miburo, de Tsuyoshi Yasuda, focado no grupo Shinsengumi. No mesmo mês, tivemos a estreia de Moeyo ken, uma série de Kanata Yoshiki e Komatsu Emeru com o mesmo grupo como foco.
Pouco tempo depois, na Young Magazine, tivemos Tsuwamonogatari, de Hosokawa Tadataka, mais um mangá com foco no Shinsengumi. Então, aproveitando que eles estão em alta no Japão no momento, vamos fazer um especial explicando quem foram.
Antes de falar um pouco do Shinsengumi, precisamos de uma breve contextualização. O Japão cronologicamente é dividido em períodos e, no período Edo (1603-1868) o país mantinha suas fronteiras fechadas à estrangeiros. Além disso, havia um sistema muito rígido de classes sociais. Nesse sistema, os Samurais eram os mais poderosos, enquanto os mercadores mais simples ficavam abaixo de toda essa pirâmide social.
Em 1853, Mattew Perry (não o de Friends), um marinheiro americano, forçou o Japão a abrir as portas para que eles pudessem ter um local de reposição de água e comida. O Xogum da época, ao se deparar com a artilharia americana, viu que não conseguiria vencê-los.
Então, foi assinado o Tratado de Kanagawa, que estabeleceu um consulado americano no país. Com o passar do tempo, o Xogum também acabou abrindo suas fronteiras para os demais países.
Muitos samurais se revoltaram com a decisão, alegando que o governo atual era covarde e fraco por não lutar para manter seu isolamento, e assim diversos samurais tornaram-se terroristas para o governo, desejando um novo governante, que fosse mais combativo.
Devido a essa revolta, a polícia local não conseguiu dar conta de conter todo o caos que estava se formando. Além disso, o Xogum precisava de pessoas para ser sua guarda pessoal, mas não podia confiar em samurais para o fazê-lo, por medo deles serem terroristas.
Assim sendo, o Xogum fez um alistamento para que plebeus e pessoas das classes mais baixas pudessem se tornar sua guarda pessoal. As poucas pessoas que eram hábeis com espadas para tal missão aceitaram, com a esperança de se tornarem tão honradas quanto os samurais.
Os que aceitaram se reuniram na região de Mibu, de onde veio seu primeiro nome, Mibu Roshigumi. Porém, apesar da alta habilidade, poucos tinham a disciplina e a honra de um samurai, o que fez com que eles fossem temidos como baderneiros, ganhando o apelido de “Lobos de Mibu”.
Porém, a busca de entrar no grupo por um modo de vida mais honrado foi crescendo e, com isso, o grupo aumentou de tamanho até que, com uma permissão do líder do Clã Aizu, eles se tornaram uma nova força policial, agora rebatizados de Shinsengumi (algo como “Tropa Recém Escolhida”).
Em busca de poder tornarem-se samurais de verdade, criaram o Kyokuchu-hatto, uma lista de cinco regras que todos os membros precisavam seguir à risca, sob pena de harakiri caso alguma fosse violada. Ao todo, quase cinquenta membros perderam suas vidas por desrespeitá-las.
Todos os membros usavam um haori de cor azul chamado de asagi com um kanji 誠 (makoto) nas costas. Além disso, as roupas tinham o mesmo padrão usado pelos 47 ronins. A cor asagi era conhecida por ser a cor do samurai que fosse cometer harakiri. E o kanji significa honestidade.
Apesar da alta fama, o grupo ficou ativo apenas por volta de seis anos. E um dos seus mais famosos momentos ficou conhecido como o Incidente de Ikedaya, onde eles conseguiram informações, através de torturas, de um plano terrorista contra o governo. Um grupo de pessoas iria incendiar Kyoto e matar o chefe do governo militar do local, Matsudaira Katamori, a mesma pessoa que oficializou o Shinsengumi como tropa policial. Além disso, de acordo com as informações obtidas, este grupo planejava sequestrar o imperador, forçando-o a criar um novo governo.
A tropa então vasculhou a cidade até encontrar seus alvos, em um local conhecido como Ikedaya, e então lutaram para impedir os planos.
Porém, sua derrocada como tropa policial veio a ocorrer logo depois, quando o imperador morreu e seu sucessor retirou os poderes políticos do xogunato. Isso levou à Guerra de Boshin. Ali, com o xogunato de um lado e o império do outro, o Shinsengumi lutou a favor do xogum, para o qual eram leais, e com isso se tornaram os terroristas e anti-patrióticos da vez. Mesmo com a certeza clara de uma derrota, o xogum mandou o grupo ir ao ataque, praticamente como um ato de descarte. Ainda assim, o grupo lutou até a morte.
Kondo Isami, o chefe do grupo, pediu para pelo menos cometer harakiri e morrer com honra, como um samurai. Mas foi decapitado, uma pena de morte que se é dada a criminosos. Sua cabeça foi exposta em praça pública.
O grupo já apareceu em outras obras, como Gintama, onde Kondo Isao é baseado em Kondo Isami; Hijikata Toshiro, em Hijikata Toshizo; e Okita Sougo em Okita Soji. Também aparece em Samurai X, onde um dos personagens, Hajime Saito, era o capitão da terceira unidade do Shinsengumi. Hajime existiu na vida real.