Entrevista | Israel Guedes, autor de T-Hunters

Israel Guedes, mais conhecido como Izu, atualmente morando em Macapá, autor do mangá T-Hunters publicado no app WebComics, ficou conhecido recentemente por transformar cenas da última edição do Big Brother em páginas de mangás, inclusive sendo compartilhado pelas contas oficiais e com suas artes aparecendo no G1 e no programa Fora da Casa. Conseguimos uma entrevista para falar sobre seus processos criativos como artista e como ele está lidando com o repentino estouro que teve!


Mangáteria: Muito obrigado por ter aceitado participar, ficamos lisonjeados com isso. A primeira pergunta vai ter que ser aquela mais genérica. Como você começou a desenhar, mais ou menos, você lembra?

Izu: BBB ou geral mesmo?

Mangáteria: Geral.

Izu: Minha lembrança mais antiga é de eu ter uns 4 ou 5 anos, assistindo Cavaleiros do Zodíaco na Rede Manchete e, desde aquela época, eu já desenhava bonequinho de palito. Com as armaduras, tentava imitar as armaduras nos bonequinhos de palito e desde aquela época eu meio que já sabia que eu queria fazer aquilo. Eu via, e achava “Nossa, eu quero fazer isso. Desenhos desse”. 

Eu não tinha ideia do que era mangá. Eu nem sabia a diferença de anime para desenho americano ou outro tipo, mas eu me apaixonei por aquela estética e queria imitar aquilo. E daí depois veio Pokémon, veio Dragon Ball. O primeiro mangá que eu li, inclusive, foi Dragon Ball. E consolidou mais ainda essa vontade de eu querer desenhar, principalmente, para minhas histórias. Mas eu comecei desenhando principalmente personagens que eu gostava, né? Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, Pokémon, etc.

Mangáteria: E a partir de qual momento você pensou: “Vou tentar fazer isso de um jeito mais profissional. Vai parar de ser só meu hobbie”? Você lembra?

Izu: Então, isso é um negócio meio confuso pra mim porque eu sempre falei pra minha família que eu queria aquilo. “Nossa, eu quero ser desenhista, quero trabalhar com isso”. Porque, no começo, eu queria ser desenhista, que nem eu falei. A vontade de criar mangá de fato, histórias próprias, veio com o tempo. 

Eu fazia mais os personagens que eu gostava, mas eu queria trabalhar com algo relacionado a isso. Artista, desenho, enfim. E eu sempre falava isso pra minha família, só que eu acho que eles não levavam a sério. Eles achavam “Ah não, é só, sei lá, um desejo de criança assim. Depois ele vai mudar de ideia”.

Os meus pais achavam muito que era só uma fase ou algo do tipo, por coisas que meu pai falava, por exemplo, mostrava que ele acreditava que isso ia passar alguma hora e que eu ia mudar minha cabeça e ir pra outros caminhos e…nunca mudou! Foi basicamente desde sempre. Mas, deixe-me ver, pior que eu acho que talvez quando eu peguei meu primeiro mangá, que foi Dragon Ball, quando lançou aqui, não lembro em que ano, pela Conrad.

Mangáteria: Foi em 2000.

Izu: Então, foi vendo Dragon Ball que eu pensei de fato “Eu quero fazer mangá e quero viver disso. Quero viver de quadrinhos”. Antes eu lia muita Turma da Mônica, era viciado em Turma da Mônica e em fazer minhas histórias, mas eu não lembro se eu queria trabalhar com Turma da Mônica. 

Talvez, não consigo dar certeza, mas talvez eu já quisesse trabalhar com quadrinhos com a Turma da Mônica, mas eu lembro que eu estava “De fato, eu estou super empolgado. É isso” e foi a partir de quando eu comecei a ler mangás mesmo.

Mangáteria: Você falou em Turma da Mônica, teria vontade de fazer uma Graphic MSP?

Izu: Olha, se me convidassem, eu ficaria muito honrado e aceitaria!

Mangáteria: De quem você faria?

Izu: Olha…talvez…do Do Contra. Porque ele tem esse lance de ele ser do contra, né? De  não querer seguir pela linha dos demais e eu acho que isso tem muito pano pra trabalhar, tem muito conteúdo que dá pra fazer com isso. 

Eu adorei como representaram ele no filme, Lições, que teve recentemente e, cara, eu achei ele muito carismático, muito engraçado e como daria pra trabalhar uma visão diferente pois uma coisa que eu gosto de fazer nos personagens é não ir pelo óbvio, não ir pelas coisas muito clássicas. 

Eu tento trabalhar com as coisas um pouquinho mais “deixadas de lado” e geralmente a gente vê aquele tipo de personagem que tem um objetivo claro ou então que passou ali por uma Jornada do Herói, que ele tem um Chamado para Aventura. 

[Um personagem] que mesmo que ele não quisesse ir, ele acaba indo por algum motivo e depois ele vê que aquele era o destino dele, enfim. Esse tipo de coisa. Eu prefiro mais o lance de entender o psicológico dos personagens. E talvez eu fosse mais pra esse lado de entender o psicológico do Do Contra e trabalhar nisso.

Mangáteria: Trabalhar o porquê dele contraria tudo, por exemplo?

Izu: É! O porquê disso e como ele se sente com isso. Se isso muda alguma coisa na vida dele, se isso de fato é ruim, se é bom, se ele vai aprender algo com isso, esse tipo de coisa. As consequências.

Mangáteria: É, já me deixou com vontade de ler uma Graphic MSP que você nem foi convidado ainda! E qual foi seu primeiro grande trabalho? Seu primeiro trabalho profissionalmente?

Izu: Grande, eu acho que foi o Doctor Who.

Mangáteria: Dimensão Perdida?

Izu: É, muita gente não sabe, mas eu colori uma parte que tinha coloristas que participaram daquela HQ, e eu participei dela. 

Doctor Who, acho que foi a maior coisa que eu participei no trabalho. Antes disso, outra coisa maiorzinha que eu trabalhei foi no MPT em quadrinhos, o Ministério Público de Trabalho de Vitória, Espírito Santo. Eles têm uma HQ online, inclusive, que falam sobre questões trabalhistas, e foi o primeiro trabalho profissional que eu recebi.

Eu fui fazer um curso no Instituto HQ, que é uma escola de quadrinhos em São Paulo. Escola de Artes, na verdade, que eles se auto-intitulam como escola de artes e, realmente, tem Escultura e em um determinado momento tinha até Técnica Vocal, então, Artes, mas principalmente focado em quadrinhos.

E aí eu fui estudar lá, e eles também são agência, então eles arranjam trabalho para os alunos que mais se destacam. Com 3 meses de curso eu já consegui esse trabalho do MPT em Quadrinhos. Fiquei muito feliz! Se você jogar no Google MPT em Quadrinhos, vai aparecer lá. Hoje em dia eu não faço mais, mas eu fiz umas 20 edições, eu acho. Fiz por vários anos.

Mangáteria: Caramba, vou dar uma olhada sim! 

Aproveitando que você falou do Doctor Who, você trabalhou nele como colorista. Inclusive, você foi agenciado pelo curso, certo? É o nome do instituto que está nos créditos.

Izu: Não sei, porque varia muito esse negócio dos créditos. Porque às vezes é o estúdio que arranjou o job ali, às vezes são todos os coloristas, às vezes é só o colorista principal. Muita gente não sabe disso, mas no mundo da colorização dos quadrinhos tem vezes que tem um colorista principal – é uma curiosidade interessante que eu só fui descobrir trabalhando com isso – que às vezes não consegue entregar a tempo o trabalho. Ele vê que não vai conseguir entregar o trabalho a tempo e chama outros coloristas para tapar buraco e fazer uma ou duas páginas, só que eles não são creditados. Isso é muito comum de acontecer. Tem muito colorista fantasma por aí.

Mangáteria: Não sabia disso mesmo! E é engraçado, porque como os teus maiores trampos são relacionados a mangá, é um 8 ou 80, né? Você vai de mangá pra colorista de gibi! Como é sair de um trabalho e ir pro outro nisso?

Ainda mais porque, nos seus mangás, você tem um grande controle autoral. Como colorista, você está trabalhando em cima de um processo criativo de outra pessoa. Quais seriam as diferenças pra você?

Izu: Com relação a outros tipos de quadrinho, em geral, eu peço referências para as pessoas. Por exemplo, se for um trabalho agenciado, como essa hq do MPT, eles geralmente já me passam referências tipo “Olha, é nesse estilo aqui a colorização” e, se eles não me passarem, eu peço alguma referência, porque uma habilidade muito importante mesmo no mundo dos freelas de ilustração, quadrinhos e etc, é conseguir se adaptar. É conseguir adaptar seu traço, sua ilustração, ao que o cliente vai pedir. Então, o principal é você saber como trabalhar com referências e como fazer essa adaptação. 

Por exemplo, já tiveram trabalhos que me passaram que o cliente quer um traço bem parecido com Dragon Ball, então você tem que fazer um traço bem parecido com Dragon Ball, é adaptar meu traço porque é um trabalho. 

Então, é a mesma coisa com quadrinho americano, que eu peço referências e eu faço um rascunho ali, mostrando no meu traço como fica mais ou menos, para [o cliente] ver se ele aprova naquele estilo, pois é bom que tudo, tudo tudo, seja aprovado antes, no rascunho, no layout, do que ter que fazer tudo de uma vez e mudar depois. 

Pra mim, que já estou acostumado a ter que me adaptar para vários estilos, é relativamente fácil, porém, claro que tem estilos que eu prefiro mais. Claro que eu prefiro algo mais puxado pro mangá, que é mais estilizado, mais simples. E quando tem uma pegada mais realista, por exemplo, eu não sou tão fã, por que eu gosto de visuais mais simples em geral, principalmente no rosto. […] O traço realista exige que você tenha uma arte-final muito certinha, muito bem acabadinha e eu tenho um certo trauma disso.

No curso, por conta de a maioria das editoras prezar por um traço super detalhado, numa pegada mais americana, realista, bem finalizado, eu tinha que fazer [a arte] várias vezes, tanto que talvez você até tenha notado que meu traço é muito rascunhado, muito rabiscado às vezes. É por conta desse trauma que eu não gosto de fazer as coisas super finalizadas, super certinhas, porque eu demoro muito tempo fazendo. Eu quero terminar logo, então minha preferência acaba sendo em histórias mais simples e mangá. 

Só que, em colorização, não precisa tanto assim ser algo mais voltado para mangá. Eu fiz curso voltado ao quadrinho americano lá no Instituto HQ, né? Então, colorização é algo que eu me adaptei melhor, mais facilmente, do que fazer um traço mais voltado pra Marvel, DC. Eu consigo, mas não é minha preferência, e eu gasto muito mais energia e mais tempo.

Agora, a colorização acaba sendo mais simples de me adaptar, por que, mesmo um estilo americano, não costuma mudar tanto assim no geral, a não ser que seja algo hiper realista. Meu problema em geral é esse, com o hiper realismo, que é um negócio que toma muito trabalho, muito tempo, ai eu não sou algo muito fã. Mas se for algo na pegada clássica de quadrinhos em colorização, eu me dou melhor. Então, coisas simples, traços simples e colorização simples, nada tão rebuscado que me canse..

Mangáteria: Aproveitando que você citou as referências que você recebe, quais são os artistas de referência que você usa para desenvolver a sua arte? É que sempre se acaba juntando artistas que você gosta para criar o seu próprio traço. Quais são as suas influências, além do Toriyama e do Kurumada?

Izu: Você foi uma das poucas pessoas que me perguntou isso, já que o que as pessoas mais perguntam é “Em quem você se inspira pra fazer seus mangás”, e isso é um negócio extremamente amplo. 

Na verdade, muitas entrevistas têm perguntas extremamente amplas e é legal se a pessoa souber detalhar um pouco mais, e você detalhou num nível que as pessoas não costumam fazer. Quando a gente fala em fazer mangá, muito comumente as pessoas pensam que é só uma questão de traço, mas fazer mangá é muito de “Qual é o autor que eu me inspiro para fazer a narrativa? E os quadros? Os ângulos? As cenas de impacto?” É muita coisa.

Você afunilou para o traço. E aí, você vai ganhar uma resposta que eu não dei pra ninguém praticamente, uma coisa mais exclusiva! 

Sempre que alguém fala de fazer mangá, eu vou muito justamente pra narrativa, diagramação dos quadros, o jeito de contar a história, que é muito pro lado da Shonen Jump, One Piece, Shaman King, Fullmetal Alchemist. Até o roteiro está inserido nisso aí.

Agora, questão de traço, muita gente talvez tenha notado, mas eu sou muito influenciado pelos traços de mangá shoujo. Eu sempre curti muito a pegada do shonen, aquela questão de lutas, batalhas, mas eu sempre fui muito mais atraído por traços mais suaves e delicados. 

Agora pode não parecer tanto, mas CLAMP foi uma grande influência minha e, principalmente, um mangá ali que eu puxei muito do traço, que hoje em dia as pessoas podem olhar e ver meu traço ali, que é o X/1999. E aí talvez as pessoas enxerguem [semelhanças] no formato do rosto, dos olhos, no meu traço hoje em dia.

Além de X/1999 e da CLAMP em geral, tem a Matsuri Hino, de Vampire Knight, que também me influenciou bastante. Muita gente hoje em dia pode olhar e achar “Que, esses mangás tem um traço muito fino, o seu tem um traço mais grosso, mais rústico”. É praticamente só na grossura do traço e na finalização que tem essa mudança, porque se você pegar o formato do rosto, do olho, o jeito que eu faço a dobra de roupa, esses dois [mangás] foram minhas maiores influências. E aí eu completei com o jeito rústico do shonen.

Minha adolescência foi voltada à CLAMP, em Chobits, Sakura Card Captors, X/1999, xxxHOLiC, Angelic Layer. Consumia e adorava! Eu sempre gostei dessa estética porque há delicadeza nela, eu sempre achei lindo. Não é nada tipo “nossa, narrativamente eu achei que isso contribuia para a psique do personagem”. Não. Eu só achava isso bonito pra caramba e pensava que queria ter um traço desse. O personagem do meu mangá, Chiru, personagem de cabelo laranja, é muito inspirado no Kamui, o protagonista de X/1999. Por conta da personalidade explosiva dele, pavio curto, e por ele se isolar das pessoas. Ele não tem muita facilidade em se relacionar, ele é muito na dele, e isso me inspirou muito pro meu personagem, Chiru, de T-Hunters.

Mangáteria: Você é professor na escola Japan Sunset. Você dá aula lá há quanto tempo, mais ou menos?

Izu: Desde 2018.

Mangáteria: Você dá aula para adolescente e adulto. Já encontrou um aluno que você viu o traço, viu o jeito de narrar e pensou “Esse aí tem futuro”, um que se destaque da média? Você já encontrou um “pequeno gênio”, por dizer assim?

Izu: Nossa, vários. Uma coisa que muita gente que não desenha e não faz mangá acha é que tem que ter o dom pra fazer isso, quando na verdade é muito esforço. E tem muita gente que se esforça bastante e evolui mais rápido. Mas obviamente tem gente que já tem uma facilidade de entender e pegar mais rápido. 

É que nem quando eu vou estudar uma língua diferente. Eu posso não entender ou pegar tão rápido, mas tem gente que pode entender mais. E eu tenho alunos que combinam isso. Que é muito esforçado, desenha muito e já tem uma predisposição para aprender mais rápido. Eu já vi vários assim, pior que a gente tem várias pessoas muito boas aqui no Brasil, o problema é ter espaço, divulgação e oportunidades, né? Inclusive, uma ex-aluna minha agora trabalha como professora comigo na Japan Sunset. Eu fiquei muito orgulhoso.

Mangáteria: E você já teve algum aluno que já foi para a carreira profissional, que já foi publicado? Não necessariamente em editoras tradicionais, pode ser Tapas, independente, ou semelhantes. 

Izu: Até agora não, e alias, é uma coisa que eu até falo em todas as oportunidades que eu tenho, porque os nossos “xovens” têm muito medo de publicar! Com esses medos de “Vai que roubam minha arte” ou “Vai que falam mal”, sendo este justamente o principal. Ter medo de apresentar sua obra sem ela estar perfeita. Muitos dos meus alunos tem isso e eu vivo falando “Tentem mostrar. É claro que vocês têm que estar confortáveis com isso, mas eu quero estimular vocês a isso. Aconselhar vocês a isso, porque eu passei por isso”

Eu comecei a lançar meu mangá e trabalhar com isso muito tarde. Eu esperei fazer o curso, só em 2014, e também só comecei a lançar meu mangá em 2017, sendo que a história e todos os pontos principais da história já estão definidos desde 2006, só que só a partir de 2017 eu comecei a fazer, e a partir dali eu vi o quanto eu melhorei com a opinião do público, só desenhando uma coisa fixa.

Sério, a importância da gente ter algo fixo, que faz a gente desenhar com frequência, que faz a gente se empenhar ali e se esforçar em manter um certo nível, isso ajuda demais. É um grande conselho para as pessoas que pensam no “eu não sei o que desenhar hoje”. 

Eu nunca passei por isso, por bloqueios criativos, porque eu sempre quis desenhar histórias minhas ou coisas que eu gostava, então eu tinha um objetivo claro. Muitas vezes pode faltar isso, um objetivo claro ou ter algo que te estimule, como ter uma obra que você lance regularmente. Isso te ajuda a ter mais empolgação e ter mais ideias na hora de desenhar, e as pessoas, os meus alunos, e outras pessoas jovens (mais jovens do que eu, né? hahaha) tem medo de se mostrar ao mundo pensando no que o público vai achar, e medo de não estar bom o suficiente. E eu falo “Gente, vocês nunca vão estar bons o suficiente. Eu, hoje em dia, não acho que seja bom o suficiente. Eu quero mexer em muita coisa”. 

Eu refiz o meu quadrinho, né. Essa é uma versão nova, e eu já queria refazer de novo, pois pra mim não tá bom o suficiente. A gente nunca vai estar satisfeito. Inclusive, o Sidney Gusman já comentou que uma das frases mais repetidas entre os artistas é que “a gente publica quadrinho pra parar de mexer”, e é justamente isso. 

A gente vai sempre mexer, mexer, mexer. Quando eu postei meu mangá pra todo mundo ver, veio uma enxurrada de críticas, principalmente com relação ao roteiro – a arte nem tanto – falando tipo “isso aqui não faz sentido”, “mas onde eles moram?”, “isso aqui é no mundo real ou fictício?”, “essa parte não ficou clara”, “não me conectei com esse personagem”. E isso tudo é meio chato? É. Mas isso tudo é o que faz a gente evoluir.

O conselho que eu dou é, se você não se sente preparado pra postar na internet, então mostre pra um amigo. Uma coisa que fez eu melhorar bastante em questão de roteiro foi que eu tinha pessoas, amizade, família, que eu mostrava o rascunho “olha, isso aqui é um capítulo novo da minha história, o que você acha?” e aí fui escrevendo, escrevendo, escrevendo e já tinha muita coisa pronta muito cedo. 

Demorei a publicar mais pela questão da minha arte, a minha narrativa visual que eu não achava que fosse boa o bastante. Mas você tem que mostrar pra alguém, que isso ajuda a evoluir, ajuda a criar mais confiança inclusive. Se a pessoa não mostra pra ninguém, não cria confiança pra isso nunca. Infelizmente, nenhum aluno meu que eu saiba lançou a história deles, mas sempre que alguém pergunta, meu conselho é esse: lança logo. O quanto antes. 

Eu me arrependo muito, porque tem gente com a minha idade que começou a trabalhar mais cedo que eu na ilustração ou quadrinhos e que já tá muito mais lá na frente do que eu, com muito mais visibilidade. Não sei atualmente, porque eu explodi hahaha, mas vejo muita gente com muito mais visibilidade, trabalhos, reconhecimento, estabilidade financeira… se eu tivesse começado mais cedo, eu estaria mais na frente ainda. Então eu recomendo: comecem cedo!

Mangáteria: E muita gente comenta principalmente sobre a arte. Pensando tipo “Eu já tenho um roteiro legal, mas quero melhorar minha arte pra fazer”. E nesses momentos, dá até vontade de falar “Vocês já viram Magu-chan? O traço é horrível, e está na Jump!”. Brincadeiras a parte, não é um traço feio, mas quando pensa que “é algo profissional e foi publicado na Jump”…

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Izu: Cara, isso parece muito que estaria na Action Hiken!

Mangáteria: As pessoas têm medo de desenvolver a arte. Até mesmo uma arte simples e nada elaborada como os padrões profissionais dos mangás atuais chegou na Jump!

Izu: Então, porque a prioridade são boas ideias e o jeito de contar histórias. O tanto de vezes que eu já tive que falar que não é o bastante ser um bom desenhista pra ser um bom quadrinista, pra ser um bom autor de mangá. Só a arte não funciona.

Mangáteria: Ainda mais em mangá, que boa parte da história é relacionada a narrativa e a forma de contar.

Izu: Sim! É! Mangá é muito sobre a narrativa! Sobre contar de uma determinada forma, em geral para potencializar as emoções e sensações. Olha o Mob Psycho 100, que o traço é mais simples, mais caricato e a história é muito boa.

Mangáteria: E tem aquele ditado em qualquer área criativa, “finalizado é melhor que perfeito”.

Izu: Sim, tanto que o Fabio Shin, o dono da Japan Sunset, usa essa frase, mas na versão dele, eu não sei se ele fez pra rimar, mas é assim: Mal feito é melhor do que não feito. Alguma coisa assim. Finalize! Não ficou tão bom, mas você terminou.

Mangáteria: Falando agora da sua publicação de T-Hunters. Você já comentou que o mangá está numa situação de semi-exclusividade num app. Como é isso, exatamente?

Estúdio Armon: T-Hunters - Israel Guedes

Izu: Foi por causa desse app, o WebComics, que eu comecei a publicar essa nova versão do T-Hunters. Fiz a versão colorida, melhorei a arte e várias partes do roteiro. Eu tava procurando novos lugares para publicar T-Hunter, e fui entrando em contato com vários lugares e aí esse pessoal do WebComics ficou interessado em publicar e fazer um contrato comigo, me apresentaram o funcionamento, como era o retorno financeiro e como eles eram um aplicativo que era muito mais próximo do autor. É muito fácil entrar em contato com eles, conversar, e tem um editor que acompanha a obra pra ajudar, e essa parte toda é verdade, eles são bem próximos, eu me senti bem acolhido. Até porque eu já tinha tido experiências antes com o Tapas, com o Webtoon, mas na época eu me sentia muito desamparado tipo “publica aí e se fizer sucesso a gente vai atrás de você”.

Não sei se eu não entendia bem ou se era assim e hoje mudou, mas eu me sentia muito assim, e a WebComics veio com uma vibe muito mais “Bora, te ajudar. A gente toma conta de você” e a proposta de retorno financeiro deles era bem mais facilmente alcançável, não que fosse simples, mas alcançável que no Webtoon e Tapas, pensando no tanto que você precisava fazer pra conseguir um retorno financeiro. 

Então, eu assinei com eles um contrato de semi-exclusividade que me permite publicar em outros lugares desde que só a versão em inglês. A tradução em portugues é exclusiva deles até o contrato acabar, que vai ser antes do fim do ano, então eu vou poder finalmente publicar T-Hunters em outros lugares. E eu tive minha experiência com eles e tem pontos interessantes, mas no geral eu acho que vou publicar por mim e procurar outras alternativas, mas preciso esperar acabar esse tempo do contrato que vai até os últimos meses do ano.

Mangáteria: E, quando acabar, você pensa em abrir um financiamento coletivo para um volume físico?

Izu: A minha ideia é aproveitar de alguma forma toda essa galera que tá me seguindo agora, porque é uma oportunidade que eu ganhei de ter uma visibilidade muito grande, então eu penso sim em fazer algo do tipo. Hoje em dia eu tenho muito mais contatos e isso de novo é uma vantagem de mostrar sua obra, porque aí você ganha contatos.

Hoje eu tenho contato com gente que trabalha no Catarse, que tem experiência com Apoia-se. A autora de The Bride and the Fox, ela tem um Patreon e tá dando muito certo, ela tá ganhando bastante com o Patreon dela lá fora recebendo em dólar e essas coisas. Então, é pedir conselho pra essa galera que tem experiência. Olha, mais uma coisa boa de lançar sua obra e mostrar para as pessoas: Conhecer gente do meio e conseguir contatos, e isso ajuda.

Mangáteria: A ideia é tentar ir por conta própria ou alguma parceria com alguma editora, como a Indievisivel Press?

Izu: É analisar com muita calma, né? Por enquanto, vou tentar por mim mesmo. Propostas de editoras ou de gente querendo parceria de alguma forma, eu analiso com muito muito muito cuidado e vejo se se encaixa com o que eu gostaria. 

Atualmente eu não tenho nada fechado com ninguém.  Depois que eu lancei T-Hunters no WebComics, um pouco depois que eu comecei a lançar, já teve editoras brasileiras de mangás que entraram em contato comigo. Na época eu não podia lançar, né? Por nenhuma. Mas também o que eu vi ali também não era algo que eu estava tentando fazer. 

Acho que é isso, se quiser uma resposta curta. Eu vou primeiro analisar pra ver se tem a possibilidade de eu fazer por mim mesmo, posso testar pra ver se rola e dá bons frutos e aí, eu considero melhor, com os resultados, propostas de editoras e de parcerias.

Eu sou uma pessoa que curte muito mais fazer as coisas do meu jeito. Isso é até um defeito meu. Qualquer coisa que eu vá me meter, ou que outra pessoa vai fazer algo por mim, eu preciso analisar com muita calma, às vezes as pessoas ficam até bravas comigo porque eu faço um milhão de perguntas tipo “Como isso vai funcionar?” “Como a gente vai fazer?” “Posso fazer isso ou aquilo?” “Eu queria refazer aquilo”. Eu sou uma pessoa que precisa de extrema certeza antes de dar o passo, então eu sou bem chatinho com isso.

Mangáteria: É cautela, né? Imagina ano que vem, depois do fim do contrato, na linha de nacionais ali da NewPOP. Rei de Lata, Lebre e Coelho, Pirates! e T-Hunter.

Izu:  Hahaha. Seria interessante, hein? Qualquer proposta que vier eu vou analisar, não vou ser tipo “Ah não, JBC”, “Ah não, Panini”, “Ah não, NewPOP” ou qualquer outra. Tem muita gente que tem preconceito com editoras, mas cada caso é um caso. Todas as editoras hoje já lançaram material nacional e estão em condições diferentes. O material nacional da Conrad voltou também. A situação e as condições são diferentes da JBC, que também é da NewPOP. E o artista tem que decidir o que se encaixa pra ele e não só um “Ah, essa editora é boa”, pois às vezes vai que você não gosta de como ela trata os mangás japoneses, mas ela faz uma proposta muito boa pra um mangá nacional, ou se encaixa com o que você quer ou precisa na hora. Eu não vou ficar nisso de “Não converso com editora tal”, vou analisar propostas, ver se dá pra conversar, argumentar, e estou aberto a qualquer conversa.


Mangáteria: Queriamos fugir um pouco do assunto do momento, e perguntar mais sobre o seu trabalho, mas não tem como! Você ganhou uma grande visibilidade fazendo as artes do BBB! 

Eram quanto seguidores no Twitter antes do BBB?

Izu: Eu tinha 2 mil e pouco, uns 2800. E agora, da última vez que eu vi, estava em 31 mil.

Mangáteria: Como você está lidando com essa fama? Como está sendo pra você esse crescimento gigantesco? Isso está mexendo no seu trabalho em T-Hunters?

Izu: Está mexendo com T-Hunters no sentido de que eu não estou tendo tempo pra fazer hahaha. Mas a longo prazo, acho que isso vai ser muito bom. Por exemplo, se eu quiser fazer um apoia-se pra T-Hunters olha o tanto de público que eu tenho e como isso pode dar certo. Eu já tentei um apoia-se pra T-Hunters antes, quando estava na primeira versão que eu lancei muitos anos atrás, só que eu não tinha nem metade disso.

Eu não tinha Twitter, não tinha Instagram, tinha só o Facebook que tinha uns 2000 seguidores e aí não deu muito certo. Hoje, tenho mais de 10 mil no Instagram, mais de 30 mil no Twitter, e tem um canal no Youtube agora.

Mangáteria: Canal do Izu, né?

Izu: Isso. Alias, acabei de perceber que passou de mil inscritos, olha só que legal! Tava uma eternidade nos 900 e agora finalmente chegou a mil! Ih rapaz, tô feliz! 

E com relação a fama, eu não esperava esse boom gigantesco. Eu achava que seria um desenhinho ali que eu ganhasse uns 15 inscritos, uns seguidores, enfim, porque BBB faz sucesso, vou fazer um mangázinho aqui. A Jade, principalmente, já tinha um fandom, e pensei “ah, vou ganhar uns seguidores talvez” e boom, explodiu! 93 mil curtidas em questão de dias. E foi ganhando seguidores, e não parou mais. E muita entrevista!

Muita gente me perguntando se eu faço comission, se eu tenho encomenda. Eu ainda tô organizando a minha vida depois disso. Estou respondendo propostas em âmbito profissional, em âmbito de entrevista, analisando com calma. Porque… se eu ganhasse a mega-sena, eu não seria o “Ok, vou gastar o dinheiro agora”. Não. Calma. Eu tentaria fazer isso: Não mexer com o dinheiro de cara porque é fácil esbanjar, e aí foi-se o prêmio. 

Então, estou vendo com calma e respondendo com calma, porque já recebi muita proposta de publi, financeira, trabalhos, se quero fazer um curso… mas tem muita pegadinha, muita gente mal intencionada. Então, tô analisando com calma, tentando manter a frieza, já tem coisas rolando aí que talvez deem grandes coisas.

Outras coisas que mudaram: eu estou sendo chamado para eventos aqui na minha cidade, eventos geek, mas ainda ninguém me reconheceu na rua. Quem sabe algum dia as pessoas me reconheçam. Com relação a isso, também, acho que muitas oportunidades vão se abrir a partir daí, mas acho que isso é o principal. 

Analisando com calma, tô feliz porque isso não é bom só pra mim, mas para todos os artistas de mangá e quadrinhos no Brasil. Porque na grande mídia, mangás não recebem atenção. O Brasil não dá muito foco nisso e meio que, quando um faz sucesso, é muito fácil puxar pra outros, então é muito bom que eu esteja recebendo visibilidade na grande mídia, pois em geral o pessoal faz sucesso no nicho. 

Por exemplo, o Max Andrade, que é um quadrinista muito famoso aqui no Brasil, ele está fazendo a Graphic MSP, mas provavelmente vai pegar só as pessoas do nicho. Não vai pegar o grande público que não conhece quadrinhos. Sabe o que muita gente me falou? “Cara, a minha avó veio me mostrar suas artes”, “meu tio”, “minha tia”. Gente que nunca teve contato muito forte assim com quadrinhos, sabe? Então isso é muito gratificante. E todo o apoio que eu tenho recebido das pessoas. Eu achava que era muito fácil alguém do fandom de algum participante lá do BBB ficar bravo com alguma coisa que eu fiz ou ignorarem pensando “Ah, não é grande coisa. Um mangázinho ali”, mas eu fui muito abraçado pela galera que curte BBB e recebi bastante elogios.

Mangáteria: Até da própria Jade, né?

Izu: Sim! Para a Jade eu até coloquei “A Senpai me notou”. Da Ana Clara, que era a apresentadora. Da Sonia Abrão. Essa visibilidade é muito boa, porque são pessoas que consomem coisas e assistem coisas que não iriam ter contato muito próximo estão tendo, e isso pode fazer bem pra toda a comunidade. Quando um faz sucesso, outros podem fazer.

Mangáteria: Algum perfil oficial do BBB já veio falar contigo?

Izu:  Falar não, mas seguidores me disseram que o perfil do Lucas compartilhou o quadrinho dele. Perfis compartilharem pelo visto já aconteceu. É porque eu vejo @lucas…@jessi compartilhando só que eu não tenho tempo livre para verificar. Enquanto eu estou respondendo essa entrevista mesmo, estou fazendo a próxima arte do BBB. Meu tempo livre está muito escasso. Então, é difícil ir atrás pra ver se é a galera ou se é alguém com mesmo nome, porque o que mais aparece é fake.

Um dia desses apareceu “Danilo Gentili compartilhou..” e eu fiquei “Caraca, Danilo Gentili” e tava lá “Danilo Gentili…da Depressão”, sabe? Não era. Tinha a foto e o nome, mas o finalzinho era outro. Tem muito fake ali. Tem também quando por exemplo sai um “Notícias BBB” e eu vou ver e é perfil de fã. Então, é difícil ver quem é de perfil oficial e quem não é. 

Mangáteria: Já teve algumas pessoas que estavam divulgando sua arte sem os créditos, né?

Izu: Um monte!

Mangáteria: Quem sabe a assessoria da Jade possa vir falar contigo!

Izu: Né? Seria legal! Eu to com muita saudade de desenhar a Jade! Ela era a pessoa que melhor se encaixava no meu traço, porque ela tem uma cara bem mangá com um rosto mais largo, mais quadradinho, parece aquelas personagens Moe, tipo Madoka Magika. Ela deixa os cílios muito fortes, o olhar bem forte, as expressões de “vilã” eram muito bacanas de desenhar, tô com saudade de desenhar a Jade.

Mangáteria: Achamos um problema em eliminar a Jade então!

Izu: Muita gente falou isso, inclusive. Que as artes do Izu não vão ser mais legais porque não tem mais a Jade, que era ela quem dava emoção. Ai, eu estou mostrando que dá pra fazer sim coisas legais, como eu fiz na última parte que foca no Lucas, na Jessi, essas coisas. É só ter criatividade. É como você falou, é o jeito de contar a história.

Mangáteria: Como surgiu essa ideia de fazer as artes do BBB? Você falou que foi uma coisa que era popular e pensou “vou fazer”, mas de onde surgiu essa ideia, você sabe?

Izu: Então, eu já tive vontade em BBBs passados. Inclusive, muita gente pede pra eu fazer cenas dos BBBs passados, mas gente, eu não tenho tempo! Mas eu já tinha vontade, na época do BBB 20, com o Babu, o Prior, eles tinham umas cenas que eu pensava “putz, isso aqui daria um mangá bacana hein”. Só que naquela época, 2 anos atrás, eu não tinha as mesmas habilidades que hoje.

Hoje em dia eu desenho bem mais rápido, as minhas habilidades de contar histórias são bem melhores, então hoje eu me sinto bem mais seguro e desenho mais rápido, isso ajuda muito. Quando eu vi aquele momento da Jade olhando o PA e o Arthur se abraçando e uma cara meio desgostosa, pensei “cara, isso total é cara de mangá”.

Mangáteria: Aquela cena ficou muito cinematográfica!

Izu: Sim, aí eu pensei “vou aproveitar”. E eu podia desenhar rapidinho, sem perder muito tempo e aí aproveitei isso, vou fazer rapidão aqui e talvez eu ganhe umas 20 curtidas, uns 10 seguidores e pronto, explodi de uma forma que eu não estava esperando.

Mangáteria: E como você lida com o fato de que muita gente, eu incluso, acha que as suas artes estão muito mais legais que a própria edição do BBB?

Izu: Eu fico lisonjeado. Fico muito feliz. Porque cara, isso não é uma coisa que pouca gente tá falando. Geral ta falando isso. O BBB, que eu acho que é o programa mais assistido do Brasil ever, e eu to fazendo algo que as pessoas estão gostando mais. 

É um negócio absurdo, e as pessoas dizem “Nossa, você devia ter feito na época do Prior ou do Fiuk”, mas na verdade essa talvez tenha sido a melhor hora porque eu peguei os holofotes do BBB pra mim, já que o BBB não tá lá essas coisas. Então, talvez eu lançando agora, chamei mais atenção ainda do que eu chamaria se fosse em edições passadas. Então, eu acho que foi um momento acertado.

Mangáteria: Eu acredito que muita gente está assistindo o BBB pra pensar “Qual cena que o Izu vai fazer”.

Izu: hahahahaha Eu não sei se é verdade, mas tem gente que fala isso. O que vai chegar no ápice é se eu souber que, em algum momento, alguma coisa que eu fiz mudou a opinião da pessoa. Tipo, muitas pessoas não gostam da Jessi, mas eu fiz a arte da Jessi toda fofinha que muita gente gostou e talvez eu mudei a opinião das pessoas sobre a Jessi com a minha arte. Esse seria o ápice. Se eu interferisse dessa forma.

Mangteria: Aliás, você tem medo de daqui pra frente ficar conhecido só como “O garoto que desenha BBB”? E isso ofuscar seus projetos?

Izu: Não, justamente porque pode ter o efeito de “esse aqui é o mesmo mangá do cara do BBB.” e a outra pessoa “Caramba!”. O Brasil conhece. Isso é pessoal de cada um, eu não vou dizer que é frescura quem se importa, mas é o pessoal de cada um. 

Uma coisa que a gente vê é que quem fala isso, tipo o Daniel Radcliffe de Harry Potter, que quer se desvincular dos personagens e faz umas coisas diferentonas, é gente que já tá cheia de grana hahaha. Já tá super reconhecida e não precisa disso.

Nesse momento, como eu estou precisando dessa visibilidade, pode me conhecer assim. Talvez, daqui a uns 10 anos, eu já fiz muita coisa legal, meu mangá já tenha, sei lá, anime, live-action, aí talvez eu gostasse de não ser reconhecido só como o cara do BBB, porque já teria feito muita coisa legal. Mas, por enquanto, não vejo problema nenhum, e talvez nem veja depois, porque talvez muita gente, tipo a vovozinha da pessoa que mostrou a arte, não vá acompanhar outros quadrinhos meus, mas ela acompanhou o BBB porque ela gostou. 

Então, eu vou gostar de ter esse público, fora da bolha, comigo na mente. Isso, principalmente, faz com que eu não sinta esse lance, porque uma das coisas mais difíceis para um artista é fazer sucesso fora da bolha dos artistas. Como eu consegui isso, talvez eu não tenha esse lance de querer me desvincular dessa imagem. 

Talvez o que me incomode seria postar algo sobre outro projeto e ter respostas de “Legal, mas vai fazer arte do BBB?” pois talvez não seja todo ano que eu vá fazer arte do BBB, e faça outras coisas, talvez coisas internacionais ou que eu precise de mais concentração. Nesse caso, talvez eu me incomode, mas vou tentar não brigar com ninguém hahaha. Minha esposa fala que eu tenho que ter mais paciência, porque tem algumas coisas que eu não tenho paciência, mas eu vou, respiro e respondo mais calmo.

Mangáteria: Sobre isso de “minha avó veio mostrar suas artes”, muita gente comenta bastante sobre furar a bolha, mas você atirou um dardo nessa bolha!

Izu: Pois é, hahaha. E foi totalmente sem querer. Os mangás são tão deixados de escanteio pela grande mídia que eu nunca ia imaginar que eu ia furar a bolha desse jeito, achei que ia ser só uma mençãozinha no G1, porque isso pode acontecer. Mas não! Foi pra rede nacional, Correio Braziliense, gente! Muito legal! E tem gente com muita fé que apareça terça-feira agora no programa ao vivo. Na parte que aparece o que tá rolando fora da casa, né?

Mangáteria: Isso porque você apareceu no G1 umas três vezes. A gente comenta bastante das artes do BBB, só que a história do anjo emo você também apareceu, não foi?

Izu: Cara, em uma semana eu apareci quatro vezes no G1! hahaha. E cara, novamente foi tudo sem querer! Esse negócio do anjo emo foi porque eu fiz um desenho. Eu estava na vibe do BBB, e pensei “vou aproveitar essa vibe do BBB e fazer esse anjo emo aqui rapidão”. Como eu falei, o meu traço é bem rabiscado, né? Isso é muito por conta de que é mais rápido de fazer e eu só deixo ali rabiscado, sem finalizar muito. Às vezes, inclusive, já falei isso na Twitch da escola que eu dou aula, muitas vezes eu faço o esboço, e tá rabiscado, e eu deixo assim mesmo, só mexo na luminosidade, deixo mais escuro e uso daquele jeito. Então, é muito bom quando eu posso fazer as coisas do meu traço porque eu faço super rápido. E eu decidi fazer o anjo emo lá por causa disso. Pensei “Ah, vai ser bem rápido, do meu jeito mesmo, então vou fazer” e também deu uma estourada pois foi pro G1. O próprio anjo emo compartilhou e gostou.

Além disso, eles citaram o tweet original do anjo emo e coincidentemente eu comentei lá fazendo propaganda do meu mangá, pois a menina que viu disse que era um cara de cabelo azul. Depois, a gente viu que o cabelo era branco e que a iluminação na hora fez parecer que era um cabelo azul. Mas aí eu falei “nossa, parece meu mangá, um cara de cabelo azul que ajuda pessoas estranhas”. E aí o G1 compartilhou este tweet! Então, mesmo antes de eu fazer a arte, eu já estava lá porque eu comentei. Todas as vezes foi totalmente sem querer. Enquanto eu tava fazendo a arte eu vi o meu tweet no G1. Cara, eu acho que é meu ano esse. Muito confiante que até o fim do ano eu apareça, quem sabe, na Shonen Jump!? Eu não duvido de mais nada hahahaha.

Mangáteria: E pra finalizar, tirando BBB e T-Hunters, você tem algum outro projeto em mente? Não só analisando, mas que você já pense “eu vou fazer isso”?

Izu: Em mente não, porém eu estou aberto a pensar nisso pois estou dando um tempo do meu mangá, já que eu só vou poder mexer nele e divulgar mais perto do final do ano, e surgiu todo esse lance do BBB e eu to ganhando visibilidade. Então, eu dei uma pausa nele pra ganhar visibilidade e aí talvez se surgir uma proposta de projeto que dê visibilidade nesse meio-tempo talvez eu vá pra ele antes de voltar pro meu mangá. É possível.

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