Entrevista – Aka Akasaka (Anime News Network 10/05)

Hoje, dia 10/05, o site Anime News Network conseguiu uma entrevista exclusiva com o autor Aka Akasaka para falar um pouco sobre Oshi no Ko. Transcrevemos e traduzimos perguntas selecionadas que podem ser vistas a seguir:

IMPORTANTE: Todo o conteúdo aqui descrito é de propriedade do site Anime News Network assim como do autor Aka Akasaka. A reprodução deste conteúdo se dá apenas a fim de divulgação das informações assim descritas. 【OSHI NO KO】 © 2020 by Aka Akasaka × Mengo Yokoyari/SHUEISHA Inc.

ANN: O que inspirou a ideia original de “reencarnar como filho da sua idol favorita”?

Aka Akasaka: Durante o debate com meu assistente sobre formas de criar mangá, estávamos discutindo formas de criar uma história baseada em “desejos fortes”. Naquela época, um dos meus assistentes e eu conversamos sobre querer nascer como filho de uma idol. É uma piada famosa no Japão, muitas vezes tuitada quando o casamento de uma idol acaba. EU escrevi a ideia no meu livro de ideias pra histórias. Um tempo depois, eu comecei a ouvir mais e mais resmungos e reclamações sobre a indústria do entretenimento na versão live-action de Kaguya-sama de amigos meus streamers. Eu pensei que essa era a hora certa de criar uma história sobre a indústria do entretenimento, e percebi que eu poderia utilizar a ideia que eu tive lá atrás.

Quando do enredo da história principal você tinha em mente quando começou a desenhar o primeiro capítulo?

Pra mim, o enredo do primeiro arco e do último arco estavam prontos. Então, eu ponderei sobre quais tipos de eventos eu gostaria de adicionar entre eles. Eu tive a impressão que o entretenimento de mangás no Japão muitas vezes usa dramas, filmes, peças, shows e etc como temas. Mas hoje a indústria de entretenimento mudou drasticamente. Talentos [artistas que aparecem frequentemente na TV] não podem mais ignorar a internet. O Youtube se tornou super popular, filmes são assistidos com legendas, peças são cada vez mais adaptadas de animes e mangás, e tem até casos de suicídios decorrentes de reality shows. Considerando todos esses fatos, decidi trazer um assunto contemporâneo, algo que está acontecendo no mundo real do entretenimento japonês de hoje em dia. Esse foi o primeiro conceito.

Dado que os primeiros capítulos do mangá são muito rápidos [cronologicamente], que tipo de coisas você manteve em mente quando desenhava Ai e as crianças?

A parte principal da série começa no volume 2 no mangá e no episódio 2 do anime. Já que a revista onde o mangá é serializado é voltada para leitores adultos, eu indico que é uma história mais adulta em locais chave na história.

Como vocês se conheceram [Mengo Yokoyari, desenhista de Oshi no Ko] e o que levou vocês a trabalharem juntos nesse mangá?

Eu sempre apreciei o trabalho da mestra Mengo. Um amigo em comum nos deu a oportunidade de nos conhecermos quando eu comentei isso com ele. Então, eu sabia das habilidades e talentos da Mengo. Quando eu surgi com a ideia de Oshi no Ko, já tinha uma história sobre a indústria do entretenimento em um dos mangás da Mengo. Então, eu li, e imediatamente decidi contatá-la.

Até que ponto vocês (Aka Akasaka e Mengo Yokoyari) trocam ideias quando desenvolvem o enredo do mangá?

Mengo fez um sucesso com Scum’s Wish, que não é baseado em uma história já existente nem tem um roteirista à parte. Ela é capaz de fazer mangás interessantes sem mim. Quando eu estou preso na história, constantemente me consulto com ela. Eu vou a jantares com o editor e a Mengo. Nós chamamos isso de “reuniões de preparação”, mas nós só ficamos jogando conversa fora mesmo. Basicamente, pense nisso como eu tendo o fluxo da história na minha cabeça, e quando eu travo, eu me consulto com alguém.

Como trabalhar em Oshi no Ko é, se comparado a seus mangás anteriores?

Fundamentalmente, eu acredito que sou um escritor no cerne de Oshi no Ko. O estilo de comédia de Kaguya-sama é uma fórmula particular que se originou como um pedido do departamento editorial. Então, para mim, essa série é algo feito a partir dessa fórmula. Mas, eu também incluo essa comédia estilo Kaguya Sama em Oshi no Ko para deixar ela mais fácil de ler.

Qual seu processo para o design de novos personagens? Já teve algum desentendimento sobre como um personagem deve se parecer?

Para os personagens principais, eu desenhei um rascunho simples e mandei para a mulher em cargo dos storyboards. Às vezes a Mengo desenha um personagem completo mesmo sem eu descrever os detalhes na escrita. Às vezes, o processo é mais interativo, como quando eu me afeiçoo a um personagem e aumento a frequência que ele aparece. Eu gosto desse estilo de criação de personagem. Se tiver algum problema com um design de personagem, a gente discute e muda. Porém, só teve uma vez que tivemos que mudar alguma coisa. Foi quando eu criei um personagem baseado em uma pessoa real, e o design parecia muito a pessoa em questão. Oshi no Ko usa partes de histórias reais dentro do seu enredo, mas não é um documentário, e definitivamente não quer atacar pessoas reais. Eu adapto eventos que podem acontecer na história baseado nas regras da indústria de entretenimento atual. Essa obra é uma ficção.

Que tipo de pesquisas você fez na indústria do entretenimento para esse mangá?

As linhas de pesquisa para Oshi no Ko são bem extensas. Nós fomos ouvir histórias reais e pessoais de talentos, idols desconhecidas, pessoas que trabalham em canais de TV, produtores reais, gerentes, editores de revistas de fofocas, Youtubers, roteiristas e muitos outros.

O que foi revelado nesse processo foi um grande acordo de equilíbrio de poderes e lógica, e tem algumas insatisfações como “A não está levando B a sério, B não está levando C a sério e C não está levando A a sério”, que aparecem em circunstancias e regras específicas. Às vezes, eu acho que se eles trabalhassem com esse entendimento, os talentos e as pessoas ao redor deles poderiam trabalhar sem estresse.

Eu ouvi que a indústria de entretenimento japonesa e a dos Estados Unidos são completamente diferentes. Na indústria do entretenimento do Japão de hoje, não tem sindicado de talentos e escritores, não tem garantias, audições podem ser desconsideradas para elencos, oportunidades são dadas baseadas no equilíbrio de poderes entre as empresas e, basicamente, você não pode ir contra o seu gerente… esse tipo de coisa. E elas continuam a acontecer. Se vocês, leitores estadunidenses [e brasileiros], puderem aproveitar a leitura de Oshi no Ko com o conhecimento dessa situação única japonesa, vocês podem aprofundar seu entendimento da história.

O que inspirou você a retratar o mundo das idols de um jeito tão sombrio e dramático para uma obra ficcional?

Teve esse caso de um membro do elenco sendo atacado por um fã que viu uma foto da notícia do lançamento de um filme. Quando isso aconteceu, a pessoa pareceu ser muito durona, mas quando nos tornamos amigos, ela confessou que estava muito machucada emocionalmente. Quando eu descobri isso, eu percebi que os talentos escondem suas verdadeiras emoções pelo bem de seus empregos e dos fãs que os apoiam. Com o crescimento da internet, nós vivemos em uma sociedade onde as vozes dos fãs são diretamente ouvidas. Eu quero que as pessoas saibam como jovens talentos estão sendo machucados, explorados e sofrendo. Eu acho que essa obra também faz as perguntas sobre como pessoas deveriam lidar e tratar esses talentos. Eu acho que é correto dizer que quando eu escrevo sobre a realidade, naturalmente a história se torna sombria.

Rolar para cima