Uma coisa que eu sempre gostei foi de escrever. Lembro de, ainda criança, fazer histórias alternativas para jogos do Sonic ou, depois que cresci um pouco, uma possível continuação de Star Wars 6. Junto com essa vontade de escrever veio também o estudo por trás da escrita, e o entendimento de que dons não existem e que para escrever bem é necessário um estudo constante e aprofundado sobre como chamar atenção para o que você quer mostrar.
E nessa ideia de buscar conhecimento e entendimento sobre a escrita, conheci um canal interessante. Um tal de “Bendaora”. Ali, passei incontáveis horas ouvindo e estudando sobre como fazer minhas histórias melhorarem e aprendi mais do que dá para mensurar aqui.
Então, quando a JBC anunciou que iria publicar os mangás do Raoni Marqs, o dono do canal, não consegui me conter. Bendaora Comics é maravilhoso. E mal podia esperar pro que estava por vir.
Quando houve o anúncio de Como Fazer Mangá, um quadrinho nacional do Raoni, inspirado em Bakuman, que, coincidentemente, é meu mangá favorito da vida, eu surtei. Acima disso, eu fiquei extasiado. Ainda mais acima, posso afirmar, enquanto aspirante a escritor, que não existem palavras para descrever minha reação. E aqui, nesta resenha, tentarei falar um pouco sobre a minha empolgação, assim como comentar sobre o primeiro volume dessa série.
Como Fazer Mangá é um quadrinho nacional de Raoni Marqs, publicado pela JBC através de seu selo JBStudios, ou seja, é uma obra original feita em parceria com a editora. Atualmente tem apenas um volume publicado, sendo que a editora já confirmou o 2º e o autor disse que gostaria de finalizar a história em 4 volumes.
O mangá conta a história de Maru, um garoto que ama a ideia de fazer mangá, mas não faz ideia de como começar. Então passamos a acompanhar a história de Maru refletindo sobre o que fez ele querer tanto se tornar um mangaká enquanto aprende o passo-a-passo. Durante sua jornada, Maru encontra Gori, o futuro melhor roteirista do mundo, e Emi, a futura melhor desenhista do mundo. E aqui Raoni já se utiliza das nossas convenções, enquanto leitores de mangás, para nos pregar uma peça. Ao ler a ideia de “o garoto que tem um sonho se encontra com duas outras pessoas que tem justamente os pontos que faltam nele” pensamos que teremos um trio se auxiliando mutuamente. Porém, o que acontece aqui não é bem isso, mas sim uma rivalidade. Uma rivalidade amigável, mas ainda assim, não são pessoas querendo ajudar Maru. Cada qual com seu próprio objetivo, fazendo com que o protagonista aprenda ao enxergar as ideias de seus colegas desta escola de como fazer mangá.
O volume 1 é dividido em 11 capítulos, cada um deles trabalhando um dos pontos necessários para a produção de uma história. Vale ressaltar que, embora estejamos falando sobre mangakás, Raoni coloca uma realidade que se aplica tranquilamente ao Brasil, não comentando sobre todo o mercado de mangás, revistas e essa questão de serialização, mas focando na ideia de construir uma história que faça os outros quererem ler.
Apesar de extremamente didático, o mangá tem uma linha corrente muito bem definida, com uma história que não pesa na palestra, e sim, a equilibra com boas doses de humor e até reflexões sobre o motivo pelo qual vale a pena (ou não) se tornar um quadrinista, sem romantizar, mostrando o quão complicada essa vida pode ser.
E caso você se pergunte qual o tipo de humor dentro dessa publicação, ressalto que Raoni é responsável por alguns roteiros de Irmão do Jorel, então sabemos o tipo de piadas podemos esperar aqui.
O mangá também possui diversas referências a outras obras, seja em papéis cômicos ou em momentos mais sérios, como Crayon Shin Chan, por exemplo.
Um detalhe que acabou chamando bastante atenção é como Raoni comentou sobre o fato de Bakuman ter sido uma história que o inspirou muito na criação deste quadrinho, porém, ao lê-lo, senti que toda a condução narrativa estava muito mais próxima de um outro mangá, também publicado no Brasil: Faculdade de Mangá, de Osamu Tezuka.
Porém, uma coisa é preciso comentar. Da mesma forma que ao ler Bakuman eu fiquei fascinado querendo ler PCP, Crow e Lontra #11, ao ler Como Fazer Mangá fiquei imaginando pra quais caminhos as histórias dos personagens poderiam seguir.
Tanto a arte quanto a narrativa de Raoni são um espetáculo à parte. A facilidade que o autor tem para alternar entre o traço do mangá para com os traços das histórias contadas dentro dele é de tamanha versatilidade que você pode se perguntar se é a mesma pessoa que escreve ambas. A narrativa não fica pra trás, sendo bastante fluida e que faz com que você leia o volume em pouco tempo, e saia conhecendo muito mais sobre o processo criativo do que quando começou. E acho que aqui está o ponto que fez com que eu olhasse para este mangá e o aproximasse mais com a obra de Tezuka do que com a de Ohba. Bakuman trabalha muito a parte de mercado, enquanto Faculdade de Mangá, assim como este quadrinho, focam no processo criativo e nas formas de fazê-lo.
Na parte gráfica, o mangá tem 15 x 21 cm, 192 páginas preto-e-branco, e está com preço de R$ 39,90. O tamanho é o mesmo dos Bendaora Comics, formando uma coleção do autor linda na estante. Seria legal se todos os quadrinhos nacionais da JBC seguissem este mesmo padrão, deixaria os lombadeiros (e eu) bem felizes. Durante a leitura, foi possível encontrar um ou outro erro de revisão, como uma letra na palavra errada por causa do espaço. O quadrinho não tem transparência que atrapalhe a leitura.
Como Fazer Mangá é uma excelente pedida para qualquer pessoa, mesmo para quem não queira fazer histórias em quadrinhos. Com uma história simples e divertida, o mangá chama a atenção com seu jeito descontraído e muito engraçado de nos mostrar a realidade de um artista, deixando claro que muitos dos que almejam tal realidade estão sendo sonhadores despreocupados e que, para que eles continuem trilhando este caminho, é necessário ao menos que nivele seus conhecimentos e expectativas. Um gibi que dá gosto de ler e te faz querer pelo volume 2 logo.