A edição #8 da revista japonesa Da Vinci publicou recentemente, em 6 de julho, uma reportagem especial sobre Ai Yazawa, que aborda sua carreira, sua influência e suas inspirações. A própria autora, afastada desde 2009 por motivos de saúde, concedeu uma entrevista à revista, comentando sobre sua trajetória como mangaká e sobre os universos que criou. Trouxemos, na íntegra, a entrevista com a autora traduzida para o português.
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[Especial] Tanto o amor quanto a moda nos ensinaram coisas importantes.
Apaixonados por Ai Yawaza
As obras de Ai Yazawa, de grande sucesso nos anos 90 e 2000, ainda são amadas por muitas mulheres. As heroínas que nos cativaram desfrutam de suas próprias modas, lutam por amor e olham para o futuro com expectativa. Mesmo agora, quase 30 anos depois, vamos revisitar as muitas obras-primas que permanecem em nossos corações e desvendar todos seus encantos, que são capazes de nos mover adiante.
Ai Yazawa nos dias de hoje – entrevista por e-mail
Em meio às crescentes expectativas dos fãs para a exposição ALL TIME BEST Ai Yazawa, que acontecerá a partir de 20 de julho, realizamos uma entrevista por e-mail com Ai Yazawa. Perguntamos a ela sobre sua abordagem nos seus mangás e personagens, e seus pensamentos sobre seus leitores.
Entrevistador: Haruko Saito
Ai Yazawa e seus mangás
01 – Qual sua atividade favorita como mangaká? E qual é a parte mais difícil?
Ai – A parte que eu mais gosto, e também a parte mais difícil, é o “nemu”. (O nemu é difícil de explicar, mas é como se fosse o storyboard. Dá uma pesquisada no Google!)
02 – O que você tem em mente enquanto produz?
Ai – Concentração!
03 – De onde vêm os títulos dos mangás e nomes dos seus personagens?
Ai – Eu espero que o título venha naturalmente enquanto penso na história. Já os nomes muitas vezes podem “vir do céu” ou de uma busca desesperada em um “Dicionário de Nomes de Bebês”.
04 – Você é do tipo de relê seus trabalhos? Ao relê-los, como leitora, o que você acha dos “mangás da Ai Yazawa”?
Ai – Eu não releio, a menos que seja necessário para o trabalho. Não consigo reler como leitora pois fico enlouquecida pensando “Eu poderia ter feito diferente aqui”. É por isso que é tão difícil reler (risos).
05 – Por favor, conte-nos qual trabalho você considera seu ponto de virada como mangaká?
Ai – Tenshi nanka ja nai.
Nota da Redação: Tenshi nanka ja nai, também conhecido como Ten-nai, é uma série de Yazawa que foi publicada de 1991 a 1994 na revista Ribon, e compilado originalmente em oito volumes. Conta a história de Midori Saejima, que acabou de se matricular na nova escola da cidade, Hijiri Academy. Seus colegas tentam convencê-la a concorrer ao conselho estudantil, mas Midori se recusa a participar, até ver que Akira Sudou, o garoto que ela estava a fim, também participaria. Akira é eleito presidente do conselho, e Midori sua vice!
06 – Uma das características de seu trabalho é que suas ilustrações variam conforme o universo da obra. O que é importante para você ao desenhar?
Ai – Estar imersa no mundo da obra.
07 – Como você adora moda, as roupas originais em seus trabalhos são muito bonitas. Como você decide como vestir seus personagens, que adereços dar a eles e como decorar seus quartos?
Ai – É como ouvir dos próprios personagens sobre suas músicas favoritas, roupas e decoração.
08 – Desde seus primeiros trabalhos, as motocicletas e carros que os personagens dirigem são representações realistas de modelos que existem de verdade. Por favor, conte-nos se você tem algum tipo de história ou amor por veículos.
Ai – Motos e carros também mostram a personalidade e a maneira de pensar do personagem, então decido sobre isso depois de criá-los. Eu elaboro modelos como material de referência ao desenhar, por isso é um pouco divertido ver carros em miniatura por toda a área de trabalho.
09 – Em Gokinjo Monogatari, preservativos são retratados durante a primeira experiência de Mikako e Tsutomu. Já em NANA, Nana toma a pílula porque Ren não gosta de preservativos. Por que foi importante retratar a contracepção num mangá shoujo, que é de certa forma um “mundo dos sonhos”?
Ai – Acredito que seja por que não é minha intenção retratar um “mundo dos sonhos”.
Ai Yazawa e seus personagens
10 – Diga-nos quais foram os personagens mais fáceis de desenhar, e quais os mais difíceis de sua carreira até o momento.
Ai – Há muitos personagens para escolher, mas o mais fácil de desenhar sempre foi o tio.
Nota da Redação: Yazawa refere-se a um personagem coadjuvante de Gokinjo Monogatari
11 – Em seus trabalhos, há muitos personagens masculinos que geralmente podem ser “cafajestes”, mas que são irresistivelmente atraentes. Isto reflete os seus gostos pessoais?
Ai – São personagens inegavelmente fascinantes, mas não sairia com eles.
12 – Além disso, existem muitos personagens que “são populares entre os homens, mas detestados pelas mulheres” em cada obra. Como são criados esses personagens tão realistas?
Ai – Só posso dizer que eles nascem naturalmente!
13 – Junto as histórias de amor que arrebatam corações em seus trabalhos, a representação da amizade feminina também é muito impressionante. Pode-se dizer que seu trabalho é pioneiro na temática de irmandade feminina que tem sido muito falada nos últimos anos. O que você tinha em mente quando retratou essas relações entre personagens femininas?
Ai – Aparências e personalidades contrastantes. É muito interessante retratar a interação entre pessoas com valores diferentes.
14 – Os personagens coadjuvantes em suas obras também são muito impressionantes, como o encantador personagem do tio em Gokinjo Monogatari, e a amiga de confiança representada por Junko no NANA. Existe uma diferença entre os personagens principais e os coadjuvantes quando você pensa na caracterização?
Ai – Eu penso na caracterização da mesma forma para todos os personagens. Há apenas uma diferença em quem vai se destacar, mas ninguém é coadjuvante pra mim.
15 – Você já disse anteriormente que não pensa no enredo antes do tempo, e que os personagens inventam suas próprias histórias. Existe algum trabalho que tomou um rumo inesperado e você se perguntou “isso está acontecendo?”
Ai – Há muitas coisas em todos eles, mas uma que mais me chocou foi quando Nana quebrou os copos de morangos, em NANA. Essa era uma ideia que eu mesma não teria tido.
Ai Yazawa e Ela mesma
16 – Qual mangaká te influenciou ou que você admira?
Ai – Há muitos para citar. Minha pessoa favorita na revista Ribbon era a Fuyumi Ogura. Uma que sempre admirei, mesmo antes de sua estreia, é a Ryo Ikuemi.
17 – Existem outras profissões que gostaria de ter exercido se não fosse mangaká?
Ai – Estilista. Horticultora. Paisagista. Arquiteta.
18 – Existe algo em que está viciada atualmente?
Ai – BMSG | Nota da Redação: Grupo Musical Japonês
Ai Yazawa e os leitores
19 – O que o leitor quer ler e o que o autor quer retratar. Como você equilibra esses dois pontos em seu trabalho?
Ai – É muito difícil conseguir um equilíbrio, mas quando tenho algo que realmente quero desenhar, acredito em mim mesmo e sigo em frente. Acho que o entusiasmo é surpreendentemente transmitido assim.
20 – A resposta dos leitores já chegou a influenciar no seu trabalho? Por favor, nos conte sobre qualquer feedback impressionante que tenha recebido, ou quaisquer opiniões que lhe tenham causado alguns problemas (risos).
Ai – Acho que eu não sou tão influenciada. Se fosse, não creio que Sachiko em NANA teria acabado com Shoji. Ela era odiada pelos leitores e eu até fiquei um pouco envergonhada por isso (risos). Eu simplesmente acho que ele era um bom menino.
21 – Desde sua estreia, você tem dado grande importância à interação com seus leitores através das colunas e páginas extras de suas obras, mas o que seus leitores significam para você?
Ai – Uma presença indispensável. Sinto que vocês ainda estão cuidando de mim e eu realmente aprecio isso. Obrigada.
22 – Por favor, envie uma mensagem aos fãs que estão ansiosos em saber mais sobre esse especial e sobre a exposição.
Ai – Já faz bastante tempo que Nana está em hiato. Sinto muito por não ter conseguido retomá-la ainda. Mesmo assim, a razão pela qual ainda podemos fazer exibições e especiais como este na Da Vinci é por existir pessoas que continuam a ler minhas obras por todo esse tempo. Muito obrigada! Fico emocionada em saber que as pessoas se interessam em saber “quem é Ai Yazawa?”. Espero que gostem!
Ai Yazawa ● Estreou em 1985, com Ano Natsu. Suas obras mais conhecidas incluem Tenshi Nanka Ja Nai, Gojinko Monogatari, Kagen no Tsuki, NANA e Paradise Kiss. Em 2002, ganhou o 48º Prêmio Shogakukan Manga por NANA.